segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

Machu Picchu e fotografias de Hiram Bingham

No último dia em que estivemos em Cusco fizemos algumas caminhadas pela cidade e eu aproveitei para comprar um livro sobre Machu Picchu. O livro chama-se "Machu Picchu, la ciudad perdida de los incas", por Hiram Bingham. O título original da obra é "Lost City of the Incas". 
Esse livro é o relato do Professor Bingham a respeito da descoberta de Machu Picchu em 1911. Portanto, no ano de 2011 será completado o centenário de um dos maiores achados arqueológicos de todos os tempos. Eu cheguei a ver no Museu Inca uma linda fotografia do sítio arqueológico na época de sua descoberta, no momento em que o Sr. Bingham e sua equipe começavam a realizar a limpeza da vegetação que crescera sobre as construções, provavelmente na expedição que se seguiu, em 1912. Depois fiquei sabendo que existem mais de 12.000 fotografias documentando as expedições de 1911, 1912 e 1914/1915. Lamentei o fato da edição do livro que eu comprara ter substituído as 12 fotografias originais feitas pelo Professor Bingham e trocado-as por fotografias modernas. Desta forma resolvi procurar alguns arquivos dessas imagens  que estão disponíveis em determinados sites na internet. Apresento algumas dessas mais abaixo.
E dessa singela busca pelas fotografias terminei conhecendo uma polêmica envolvendo a exploração  de Machu Picchu. Duas discussões importantes nós já conhecíamos a partir das explicações dos guias peruanos. Machu Picchu nunca foi uma cidade "perdida", mas apenas uma cidade abandonada por seu povo, ainda no princípio da invasão espanhola. Os povos indígenas que continuaram habitando o vale do rio Urubamba sempre souberam a respeito de sua existência. Inclusive foram indígenas que viviam nesse vale que conduziram o historiador Hiram Bingham até a cidade. Esses indígenas faziam uso de alguns dos andenes de Machu Picchu para os seus cultivos. Portanto, o Professor Bingham é considerado o "descobridor científico" da cidade, pois foi o primeiro a estudá-la, mapeá-la e divulgá-la ao mundo. 
A segunda polêmica reside no fato de que o Sr. Bingham retirou do Perú aproximadamente 4.000 objetos arqueológicos, entre cerâmicas, objetos de metal, ossos humanos etc., levando-os para a Universidade de Yale, nos Estados Unidos, para estudos científicos. A licença fornecida pelo governo peruano teria uma validade de 18 meses, mas já transcorreram quase 100 anos e esses objetos nunca foram devolvidos ao país de origem. Recentemente, após duras batalhas e fervorosas discussões empreendidas pelo povo peruano, no mês de novembro passado, foi anunciado um acordo entre a Universidade de Yale e o Governo do Perú para repatriar os objetos arqueológicos. Embora exista uma crescente tendência internacional para os casos de espoliação arqueológica, caso do Perú, Egito e de tantos outros países pobres que foram saqueados de seus tesouros culturais por exploradores de diversas nações "desenvolvidas", resta saber se o acordo será efetivamente cumprido!
A terceira polêmica eu fiquei conhecendo nos últimos dias, justamente por estar procurando as fotografias antigas. Em 2008 foi divulgado por um pesquisador independente, Paolo Greer, de que o verdadeiro descobridor de Machu Picchu teria sido um engenheiro alemão chamado Augusto R. Berns, que pelo que se sabe teria conduzido um "empreendimento" como saqueador de tumbas incas no Perú, um "huaquero", em especial no vale do Urubamba. Isso 40 anos antes de Bingham chegar em Machu Picchu. Só que no próprio livro do Dr. Bingham ele admite, em mais de um trecho, que durante o período de esquecimento da cidadela, outros deveriam tê-la visitado e saqueado objetos de grande valor.
Seja qual for a polêmica em torno da descoberta científica e dos métodos empregados pelo Dr. Hiram Bingham, é inegável a sua contribuição para a divulgação de Machu Picchu, alavancando esse sítio arqueológico para uma condição de renome internacional na ciência e no turismo e passando a ser considerado uma das grandes maravilhas produzidas pelo ser humano no mundo.

Hiram Bingham, o descobridor científico de Machu Picchu.
Deslocamento da expedição de 1911.
Machu Picchu, como foi encontrada pelo Professor Bingham em 1911.
Escavações em Machu Picchu, Expedição de 1912.
Templo do Sol. Após as escavações em 1912.
Operações de limpeza da vegetação durante a expedição de 1912.
Machu Picchu, após as operações de limpeza da vegetação em 1912.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Expedição Inti & Killa II - últimos dias

No dia anterior havíamos ingressado na Argentina, após um rápido trajeto de dois dias pela Bolívia. Não cheguei a comentar no post anterior, mas novamente as atividades de fronteira, a quinta da viagem, foram cansativas. Tanto do lado boliviano como no lado argentino ficamos esperando bastante tempo até descobrir onde, quando e quem iria nos atender. Mas acima de tudo, estávamos felizes por regressar à Argentina, país pelo qual criamos grande afeição desde a nossa primeira visita em 2005.
Pernoitamos em Tilcara e não tivemos horário para acordar, pois o dia anterior tinha sido bem exigente e era necessário um bom descanso. Pela manhã fizemos tudo em ritmo tranquilo, tomamos nosso café na santa paz e partimos da hosteria na direção de Salta sem muita pressa. Aproveitamos para visitar a boa feira de artesanato no centro de Tilcara, fazendo compras de algumas lembranças para a família e amigos.
De Tilcara fomos rapidinho até Salta, pois a distância é de apenas 163 quilômetros. Chegamos logo no início da tarde e de cara aproveitamos para abastecer o carro, já pensando na preparação da etapa de retorno. Depois de abastecer ainda gastamos quase uma hora até conseguirmos um hotel próximo do centro histórico da cidade, pois queríamos fazer os passeios à pé, sem depender do nosso jipe. Terminamos conseguindo hospedagem no Hotel Bonarda, localizado a tão somente duas quadras da Plaza Central! Esse hotel foi um dos melhores da viagem, de boa categoria e destacado pelo atendimento cordial de seus funcionários. Suas instalações são interessantes, pois apresentam uma combinação harmoniosa entre o estilo tradicional e a decoração moderna, tudo reunido numa casa histórica de princípios do século passado.
Resolvidas as questões de ordem prática, fomos às "calles"! Salta, "La linda", já era nossa conhecida da viagem ao Atacama, em 2007. Como a cidade tinha deixado uma impressão muito boa daquela época, resolvemos incluí-la em nosso roteiro, porém com um propósito bastante específico: conhecer os "Los Ninõs del Volcán Llullaillaco" no Museo de Arqueologia de Alta Montaña. Os "ninõs" são três das mais perfeitas e impressionantes múmias já encontradas por arqueólogos, seja aqui na América do Sul ou em qualquer outro lugar do mundo! Essas crianças foram oferecidas em ritual inca de sacrifício, no cume do vulcão Llullaillaco, em plena Cordilheira dos Andes, a 6.730 metros de altitude! Pois além dessas múmias serem das mais impressionantes já encontradas pela humanidade, o conjunto de roupas e objetos que elas portavam em seus túmulos está intacto e preservado. Esse foi um dos pontos altos da viagem e foi muito emocionante conhecer toda a história que envolveu essas crianças. Tivemos a oportunidade de conhecer "La Niña del Rayo", uma vez que elas nunca são apresentadas juntas, havendo a cada três meses a troca no expositor especial que as mantém em condições ambientais controladas. Também toda a coleção do museu é muito rica e compensa  gastar no mínimo umas duas horas para a visitação.
Após a visita ao museu entramos na "fase de relaxamento final". Sentamos num dos cafés da linda Plaza de Armas e pedimos uma cerveja Salta "rubia" bem gelada. Sim, por aqui tem uma cerveja local que vale experimentar! Ficamos por ali, batendo um papo, curtindo o visual dos prédios históricos e rememoramos os lindos momentos dessa expedição que estava terminando com sucesso.
Nos três dias que se seguiram, 23, 24 e 25 de setembro, percorremos os 1.800 quilômetros de estrada que nos separavam de Porto Alegre. Nesse trajeto vencemos o Chaco, considerado aborrecido por muitos, e pernoitamos na cidade de Presidencia Roque Sáenz Peña, uma ótima referência com muito boa estrutura para viajantes nessa região. Tivemos mais um pernoite já no Brasil, na cidade de Santana do Livramento, e no terceiro dia concluímos com extremo contentamento mais uma fantástica viagem por esse  fabuloso continente, a América do Sul. 
Com este post eu encerro o relato da viagem e agradeço imensamente a todos aqueles que visitaram o blog e leram essa nossa história. Agradeço em especial os comentários, os elogios às fotografias e todo o incentivo que recebemos dos seguidores e de blogueiros que nos acompanharam. Peço desculpas por erros que eu tenha cometido no uso da linguagem escrita ou pela demora em postar as informações, pois o intento era fazer a viagem e ir relatando durante o seu desenrolar. Só que eu descobri que na prática isso é muito dificil, começando pelas conexões de internet que nem sempre são boas. Assim os atrasos foram se acumulando nas postagens e depois, na volta ao trabalho, faltava tempo para colocar os textos em dia. Mas mesmo assim, com todas as dificuldades, valeu a experiência! 
Nos próximos posts pretendo abordar alguns assuntos que continuo estudando a respeito de Machu Picchu e os segredos que envolvem o seu descobrimento. Aos poucos também pretendo completar posts das outras viagens que fizemos. Abraços a todos, Feliz Natal e Próspero 2011!


"La Doncella" - Autoria desconhecida.
"El Niño". Autoria desconhecida.


"La Niña del Rayo" - Autoria desconhecida.

Cafés na Plaza de Armas - Salta

Vai uma Salta "Rubia"?
Quem disse que o Chaco não pode ser bonito?

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Expedição Inti & Killa II - Décimo-sétimo e décimo oitavo dias - 20/09/2010 e 21/09/2010 - III

Dia 21 de setembro. Partimos às cinco e meia da matina de Challapata seguindo para Potosi. Ainda bem que não seguimos dirigindo durante a noite do dia anterior, pois depois de Challapata encontramos uma estrada cruzando serras muito íngremes e com curvas perigosas!
Depois de passarmos por Potosi rodamos em rípio e trechos de estrada asfaltada, com muitas obras e desvios, até Villazón.  Em breve vai dar para seguir pelo sul da Bolívia até o Peru utilizando essas estradas totalmente asfaltadas. Lá pelas cinco da tarde estávamos dando o adeus para a Bolívia e abraçando a Argentina! Ainda não era o nosso Brasil, mas pareceu que tínhamos chegado em casa!  Ficamos muito felizes em reencontrar as lindas cores da Quebrada de Humahuaca! 
Tocamos noite adentro e chegamos em Humahuaca, mas ficamos frustrados, pois a cidade estava cheia em virtude de um concurso da miss Jujuy e ficou difícil conseguir um hotel. Então rodamos mais uma hora e pouco até Tilcara, encontrando uma boa hosteria de cabanas próximo da cidade, El Portal de La Quebrada. Jantamos um bom bife de chorizo com uma Quilmes bem gelada! O sono foi dos deuses!

domingo, 12 de dezembro de 2010

Expedição Inti & Killa II - Décimo-sétimo e décimo oitavo dias - 20/09/2010 e 21/09/2010 - II

Dia 20, ainda. Depois dos desafios impostos pela fronteira boliviana seguimos em frente na direção de La Paz, localizada uns 100 quilômetros adiante. E não tínhamos nenhuma intenção de visitar a maior cidade do país. Somado a isso ficamos bastante preocupados com a perda de tempo que tivemos na aduana, pois eu tinha idéia de tocar até Potosi, mas com o tempo gasto já começara a pensar nas alternativas que teríamos no caminho.
Até La Paz seguimos tranquilos pela Ruta 1, mas quando chegamos na região metropolitana a coisa esquentou. La Paz é uma cidade grande, com mais de dois milhões de habitantes e um trânsito muito caótico. E nessas condições, mesmo com o auxílio do GPS, eu não poderia errar o caminho, pois isto representaria mais perda de tempo e dores de cabeça para voltar à estrada. Enfrentamos avenidas com tráfego pesado e engarrafamentos de carros, vans de transporte coletivo, caminhões e muitos, mas muitos pedestres caminhando e correndo por entre os veículos. Rezamos para não enfrentarmos uma colisão ou atropelamento, coisa que parece muito fácil de acontecer! Fomos seguindo devagar, com muita atenção, não erramos o caminho e aos poucos fomos nos afastando do centro urbano. Ufaaa!!!
Depois da capital de fato esperava caminho livre até Potosi, mas já estava pensando numa alternativa onde poderíamos dormir para não viajar durante a noite. Porém, o tráfego após La Paz continuou pesado, com muitos caminhões na estrada nos dois sentidos e grande dificuldade para fazer as ultrapassagens, pois a estrada está localizada numa região de colinas, com subidas e descidas constantes. Depois que passamos por uma estação de pedágios começei a vencer vários caminhões e acelerei mais para retomar o ritmo de viagem. E aí foi o nosso azar! Quando começamos a descer o topo de uma dessas colinas fomos apanhados por uma patrulha rodoviária! Um dos guardas agitou vigorosamente uma bandeira vermelha fazendo sinal para encostarmos. Pensei comigo mesmo: "Agora estamos ralados!!!". Eu não tinha nada para discutir, pois vinha a uns 110 km/h e o limite era de 80. Quando paramos os guardas deram uma dura danada, mostraram o registro no radar e um livreto com a legislação que tínhamos infringido. Falou que teríamos que retornar até o posto policial para preenchimento da multa, etc, etc. Eu fiquei frio, calmo e submisso, pois isto seria o caos para nós! Ainda assim, resolvi arriscar e perguntar se não poderia pagar a multa alí mesmo. Bom, foi a deixa que ele queria ouvir. Mandou que eu descesse e fosse até a viatura. O discurso mudou radicalmente e tudo ficou mais calmo. Disse que não queria nos causar prejuízo e se pudéssemos alcançar uma importância tudo estaria resolvido. A multa era de 200 bolivianos! Voltei para o carro pensando rápido e conversei com a Márcia. Nosso dinheiro estava contadinho, mas não tínhamos outra alternativa. Era pagar ou ficar encrencado com a polícia naquele cafundó. Achei que poderíamos alcançar 100 bolivianos e se precisássemos poderíamos fazer novo câmbio em Potosi. Voltei até o carro da patrulha e ofereci a quantia. Disse que era o que dispunha, pois tinha mais despesas no caminho. O patrulheiro pegou a grana e devolveu a minha carteira de motorista. Advertiu-me para que eu dirigisse devagar e que só estava querendo ajudar! Não queria que eu ficasse com má impressão do país. Tá bom! Agradeci e disse que tomaria mais cuidado com a velocidade. Voltei para o carro e tratamos de cair fora rapidinho. Ainda que essa situação tenha sido "resolvida" com o menor prejuízo para a viagem, andamos muitos e muitos quilômetros amuados com aquele episódio. Nesse tipo de situação, que não era a primeira vez que enfrentávamos em nossas viagens, a gente fica muito desprotegido e com uma sensação de insegurança muito grande. Também não é nada agradável ter que pagar propinas, mas a desvantagem da situação é tal e a encrenca pode se tornar tão grande que o negócio é tentar encerrar a situação o mais rápido possível. Alguém já viu aquela série "Férias na Prisão"?!!
Seguimos mais devagar e passamos por Oruro. Seria um bom local para o pouso, mas ainda era cedo para encerrar o dia e resolvemos seguir em frente. Quando a noite já estava caindo encontramos uma alternativa para dormir em Challapata, num hotelzinho muito, muito simples, o Residencial Diar. Porém tinha o básico e necessário: uma cama limpa para dormir, banho e um lugar para guardar o carro. No dia seguinte, 21, acordamos às 5 horas da manhã para terminar o capítulo da Bolívia. Valeu!


sábado, 11 de dezembro de 2010

Expedição Inti & Killa II - Décimo-sétimo e décimo oitavo dias - 20/09/2010 e 21/09/2010

Recordando, no último post narramos a decisão de voltamos ao Brasil pelo trajeto Bolívia-Argentina, ao invés de seguir via Chile-Argentina. Depois da viagem que fizemos em 2009 passei a considerar a Bolívia um trajeto radical, pois o país é bonito, tem uma rica história e forte cultura indígena, mas com vários problemas decorrentes da sua condição de pobreza (infraestrutura muito precária, corrupção de autoridades, segurança, baixa receptividade aos viajantes etc.). Mas tudo bem, ainda assim achamos que valeria cruzar o país para fazermos um novo caminho e reduzirmos o regresso ao Brasil em um dia.
Um dos maiores estresses nessas viagens são as fronteiras, pois da cabeça das autoridades de cada país podem surgir grandes barbaridades para o viajante. Sair do Perú foi a maior facilidade. Em Desaguadero Perú fizemos um rápido trâmite e logo estávamos liberados. Aproveitamos para fazer câmbio no lado peruano, pois segundo nos informaram não haveria no lado boliviano. Ficamos muito inseguros da quantidade de bolivianos que precisaríamos e das conversões, pois já era a sexta moeda que entraria nas contas (real, dólar, pesos argentinos, pesos chilenos, soles e por fim, os bolivianos). Chegou a dar um nó em nossas cabeças, mas depois de muitas contas na calculadora chegamos à conclusão de que não seríamos enrrolados nas trocas e de quanto seria necessário para atravessar a Bolívia em dois dias. E teríamos que ter dinheiro para tudo, pois não aceitariam cartão de crédito em lugar nenhum no caminho.
Feito o trâmite no Perú e o câmbio seguimos felizes para o carro para atravessar para o lado boliviano. Aí surgiu o primeiro problema! Simplesmente do nada apareceu um fiscal fdp cobrando cinco soles pelo estacionamento do jipe. E tinha que ser pago em soles! Bem, a Márcia tinha terminado de entregar, generosamente, os últimos soles que tínhamos para uns rapazes que ficaram "cuidando" do carro. Fiquei muito zangado com ela, pois eu tinha avisado para guardamos uns trocados para uma eventualidade. Agora não tínhamos mais dinheiro peruano, que saco, e estávamos perdendo tempo precioso!!! Perguntei se não poderia pagar em bolivianos, mas o cara, com pouquíssima boa vontade, não aceitou. Então voltamos no câmbio para trocar dinheiro novamente. Só que eles não aceitaram fazer troca de uma pequena importância! Putz! Então lembrei que eu tinha dois dólares na carteira e voltamos ao carro para oferecer ao fiscal. Ele aceitou os dólares, mas ainda queria mais um sol, que m! Remexendo nos bolsos achamos uns trocados perdidos e conseguimos completar o pagamento do estacionamento. Perdemos mais tempo com isso do que fazendo o trâmite da fronteira peruana!!!
Bem, atravessamos os metros da ponte que passa sobre o canal vertedouro do lago Titicaca e chegamos no Desaguadero boliviano. O aspecto não era nada convidativo. Essas cidades de fronteira sempre tem atividade de contrabando e lembram muito a paraguaia Ciudad del Este, só que mais pobres e sujas. Estacionamos o carro e saímos a procurar a imigração. Uns guardas de fronteira nos indicaram o local e lá fomos nós para os trâmites de passaporte. Até que achamos rápido o escritório, pois nada era claramente identificado. Preenchemos os formulários necessários e logo ganhamos o visto de turistas. 
O passo seguinte seria na aduana, para fazer a declaração juramentada do veículo. Pedimos orientação e nos disseram que o escritório ficava do outro lado do prédio. Começamos a circular o tal edifício, fomos e voltamos e fomos e voltamos novamente e nada de encontrarmos a tal aduana. Perguntamos para um e para outro, abrimos portas indevidas, mas nada de uma resposta esclarecedora. Até que caímos na real e percebemos que o tal escritório da aduana era uma salinha suja e empoeirada na esquina do mesmo prédio da imigração. Não tinha identificação visível, a porta estava acorrentada e a janela do guichê de atendimento fechada. Tentei divisar o interior e percebi que não havia movimento qualquer. Meu Deus, quanto tempo teríamos que esperar até o fiscal voltar? Esperamos mais um pouco e voltei a falar com os guardas de fronteira pedindo orientação. Só que esses caras nunca são do tipo amistoso e você não quer ficar fazendo perguntas, pois sabe que eles ficam aborrecidos e não querem prestar atenção aos estrangeiros. Percebe-se que o pensamento é mais ou menos assim: você chegou até aqui por vontade própria, então, vire-se sozinho e não encha o saco! Ainda assim eles deram uma informação, bem mais ou menos, dizendo que se não havia ninguém na aduana eu deveria seguir adiante até o escritório principal, se não me engano chamado de aduana Quemada. Perguntei onde ficava e eles me disseram que eu encontraria no caminho!!! Que insegurança bateu na gente. Entrar Bolívia adentro sem o documento do carro, procurando uma aduana com localização duvidosa. Mas o que fazer, não tínhamos outra alternativa. 
Seguimos devagar pelas ruas pobres da Desaguadero boliviana mas logo percebemos que o caminho tomado estava errado. Abordamos um ciclista e, enfim, encontramos uma alma de boa vontade que nos deu a informação correta. Retomado o caminho chegamos num local cheio de brutos estacionados, o que me fez concluir que ali poderia ser a aduana. Não deu outra. Era alí mesmo! Bom! Estacionamos, eu entrei no escritório com a papelada do carro e logo achei o guichê de atendimento. Fiquei torcendo para que o funcionário não complicasse conosco, pois já tinha lido alguns depoimentos sobre mordidas na fronteira. Assim que fui atendido percebi que o fiscal era um sujeito educado e de bom trato. Começou a fazer o preenchimento das informações no computador, fez algumas perguntas e em seguida pediu-me a fotocópia dos meus documentos e os do carro. Fotocópia?! Sim, teria que apresentá-la para terminar o trâmite! Perguntei onde poderia fazer as tais cópias e ele indicou-me um escritório de despachantes ao lado da aduana. Saí do prédio e caminhei uns metros para logo encontrar o escritório mencionado pelo fiscal. Tinha um rapaz jovem atendendo e logo vi a máquina copiadora. Cumprimentei-o e pedi a cópia dos meus documentos. Recebi como resposta uma negativa, pois a máquina estava com o cartucho tonner vazio! Tava bom demais. Perguntei onde poderia encontrar outra máquina e ele disse-me que no escritório ao lado tinha outra, porém estava fechado. De outro modo só voltando no centro da cidade! Nossa, fiquei desesperado com o tempo  valioso de estrada que estávamos perdendo. O dia estava se indo! Algo que poderia ser muito simples  de resolver estava virando um verdadeiro transtorno na Bolívia. Voltei ao carro emburrado e avisei a Márcia das tais fotocópias que nos pediram. Toquei de volta para a cidade e começamos a circular pelas ruas. Parei, desci do carro e fui perguntar para algumas pessoas no comércio. Na rua ao lado tem uma casa com máquina, disseram umas moças. Bom! Fui até o lugar, faceiro, mas estava fechado. Meu Deus! Perguntei para uma outra pessoa. Na ponte você vai encontrar, falou um rapaz. Na prática nós estávamos voltando para o Perú! Tocamos para a ponte e desci para perguntar. A Márcia ficou para guardar o carro, pois  achamos arriscado deixar nosso veículo sozinho. Caminhei e entrei num lugar que parecia uma agência de banco, mas não quiseram me atender. Saí e procurei um outro escritório. O segurança do prédio disse que tinha uma máquina mais perto da ponte. Caminhei para o lugar indicado e achei a tal copiadora. Ficava num botequinho, um lugar bem improvável para uma máquina de xerox. O detalhe insólito: caminhamos tanto para chegar novamente em frente ao prédio da imigração! Gastamos quase uma hora nessa brincadeira! Bem, fiz as tais cópias, comprei um refrigerante para ajudar no troco e fiz uma ligação para casa. Falei com a minha irmã. De costume avisei que estava tudo bem conosco e que não se preocupassem. Todo mundo bem em casa!
Voltei contente para o carro e avisei para a Márcia que conseguira as fotocópias. Tocamos novamente para a aduana e terminamos os trâmites sem maiores problemas, pois o fiscal nos deu prioridade no atendimento. Graças à Deus, agora poderíamos seguir em frente na direção de La Paz!









sábado, 27 de novembro de 2010

Expedição Inti & Killa II - Décimo-sétimo dia - 20/09/2010

Amanheceu e estávamos em Puno. Chegara o momento de retornarmos ao Brasil! A última etapa dessa linda viagem que empreendemos ao sul do Perú. Nosso trajeto previa a volta pelo Chile e Argentina, praticamente refazendo o caminho da ida. Era a opção mais segura pois estávamos viajando "solo". Só que o destino carregou-nos para um país praticamente descartado no planejamento da viagem, a Bolívia!
A Bolívia já era nossa conhecida de 2009. Estivemos no sul do país fazendo uma expedição pelo Salar Uyuni. Trata-se de um país muito interessante, de grandes belezas naturais e rica história, mas um tanto complicado em nossa avaliação. Problemas com agentes da fronteira e a polícia, falta de estrutura no país, pouco acolhimento da população em geral, entre outras dificuldades, são ingredientes que podem causar aborrecimentos numa visita ao país. Só que com vantagens tentadoras: redução de um dia no trajeto de retorno ao Brasil e a possibilidade de conhecer novas paisagens e lugares!
Saindo de Puno nossa intenção era seguir na direção de Tacna, bem ao sul do Perú, ingressar no norte do Chile via Arica e chegar em San Pedro de Atacama ao anoitecer. Só que para chegar em Tacna a estrada seguia margeando o Lago Titicaca e conduziria primeiro até Desaguadero, bem na fronteira entre o Perú e a Bolívia! Alí, a Bolívia, bem no nosso caminho, tentando, representando mais aventura! 
Eu vinha dirigindo quieto, sem quase falar com a Márcia; a cabeça fervilhando em pensamentos e ponderações intermináveis! Vamos, não vamos? Vantagens e desvantagens! E a segurança pessoal? Estamos sozinhos. Câmbio; mais uma troca de moeda; de quantos bolivianos precisaríamos? A fronteira; será que complicariam conosco? E dessa vez não compartilhei com ela e assumi o risco pela decisão. Simplesmente comuniquei: "Voltamos pela Bolívia; vamos arriscar pois eu acho que vale a pena!" Ela manifestou certa preocupação, mas como boa aventureira que é, apoiou a modificação radical no trajeto.

Partindo de Puno, às margens do lago Titicaca.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Expedição Inti & Killa II - Décimo-sexto dia - 19/09/2010 - II

Após a visita às comunidades flutuantes de Uros seguimos para a última parte do passeio no lago Titicaca, tomando o rumo da isla Taquile. Foram mais duas horas de navegação até chegarmos num dos portos da ilha. Os objetivos do passeio foram conhecer outra comunidade nativa e fazer uma caminhada leve de um extremo ao outro da ilha, passando pela Plaza Central, a aproximadamente 4000 metros de altitude. O almoço num restaurante caseiro também estava incluído na programação.
Os 2500 taquileños vivem basicamente do plantio de milho, batata, quinua e alguns outros tipos de vegetais. Cada família possui algumas ovelhas e também poucas vacas para arar a terra. Na parte de artesanato,  outra fonte de renda importante dos habitantes, encontram-se tecidos que estão entre os mais requintados do Peru. Segundo nos informou o guia da excursão, não é permitido que qualquer porção da ilha seja negociada, impedindo assim que o estilo de vida comunitário seja afetado de modo drástico por influências exteriores. Considerando a beleza rústica e natural do local, certamente não faltariam interessados em construir mansões e hotéis de luxo nas encostas da ilha, o que certamente descaracterizaria a cultura dos taquileños.
O que mais chamou a minha atenção no passeio foram os semblantes de linhas fortes do povo e  o seu ar reservado e distante. As suas vestimentas também são diferentes dos outros locais que estivemos visitando. Os homens vestem roupas escuras com  cintos bordados de lã e gorros coloridos. Já as mulheres vestem saias coloridas em camadas e chales pretos sobre a cabeça.
Durante a nossa breve estada na ilha presenciamos uma reunião da comunidade. Foi até algo engraçado,  pois os nativos estavam reunidos em assembléia e concentrados na praça central. Como estavam paramentados e com ar todo solene, os turistas que visitavam a localidade ficaram bastante entusiasmados, pois pensaram que iriam presenciar algum tipo de show. Um dos líderes da comunidade dirigiu-se em espanhol aos visitantes desejando-lhes boas vindas e depois seguiu em  interminável discurso na língua nativa, o Quéchua. Aí, a turistada que continuava fotografando e esperando o tal "show", sem entender nadinha do que o nativo falava, foi percebendo que a reunião era coisa séria e que estavam alí para tratar de problemas da vida deles, e que não tinha nada de divertimento para os turistas!!! Aos poucos, com as caras de bobo, todos foram dispersando de fininho.
Pois bem, lá pelas 4 da tarde nos despedimos da isla Taquile e de seus nativos. Chegamos ao porto de Puno depois de 2 horas e meia de navegação, brindados por um belo pôr-do-sol. À noite ainda encontramos o casal Miriane e Paulo para um agradável jantar, concluindo com chave de ouro as visitas no sul do Peru. A excitação pela viagem de retorno ao Brasil já começava a tomar conta das nossas mentes!


















sábado, 6 de novembro de 2010

Expedição Inti & Killa II - Décimo-sexto dia - 19/09/2010

Recordando, na véspera tínhamos chegado na cidade de Puno. Hoje passaríamos o dia embarcados para visitar o lago navegável em maior altitude no mundo, o Titicaca. O programa já estava acertado e logo cedo passaram no hotel para nos apanhar. Nossas visitas incluiam as comunidades indígenas das ilhas de Uros e da ilha Taquile. No início da viagem ao Peru também estivemos pensando em pernoitar na ilha Amantani para termos um pouco de vivência com o povo indígena local, mas ainda em Cusco resolvemos cortar em nome de mais um dia de estada naquela cidade.
No barco da excursão encontramos, só para variar, muitos turistas europeus. Mas logo no início fizemos amizade com um casal de brasileiros muito querido, Miriane e Paulo, de Cascavel, Paraná, com quem conversamos e divertimo-nos bastante durante todo o dia.
A primeira parte do passeio foi realizada nas ilhas flutuantes do povo Uros. Os Uros são um povo indígena de origem pré-incaica que, pelas explicações do nosso guia, passou a habitar essas ilhas flutuantes justamente para fugir da dominação dos Incas. As ilhas artificiais são feitas de "totora", uma erva aquática da família das Ciperáceas, conhecida popularmente no  Rio Grande do Sul como junco (Schoenoplectus californicus), porém não sei se da mesma espécie. De qualquer forma, a paisagem nas margens do lago povoado com essas plantas lembra, e muito, o querido Guaíba e a linda lagoa dos Patos!
Pois bem, as ilhas são feitas de nacos flutuantes de raízes de totora, amarrados cuidadosamente uns nos outros para constituir a base. Assim, seu tamanho pode ser aumentado ou diminuído conforme os interesses da comunidade. E se você não gostar de seus vizinhos, basta serrar o seu pedaço da ilha e partir para outro ponto do lago, hehehe! O piso é formado por sucessivas camadas das hastes da totora, dispostas longitudinalmente e transversalmente umas sobre as outras. As ilhas são ancoradas em rochas (16 metros de profundidade no caso da ilha visitada) para não serem arrastadas pelo vento lago adentro. O trabalho de manutenção é contínuo para compensar a decomposição natural das palhas da totora. As casas e barcos são construídas do mesmo material. Também as tenras bases das hastes de totora podem ser consumidas como alimento. Assim, esse povo milenar desenvolveu todo um modo de vida especial com base nessa erva aquática. Muito embora os Uros contemporâneos já possuam vários confortos da vida moderna, ainda assim foi possível ter uma boa idéia a respeito do seu modo de vida singular.

Com o casal Miriane e Paulo, de Cascavel, Paraná.








Com a foto da nossa sobrinha amada, Keka.
Ainda vamos arrastá-la para uma dessas viagens de aventura, hehehe!!! 

quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Murió Kirchner

Em nossas viagens para a Argentina nos últimos anos, inevitavelmente, estivemos em contato com o cotidiano do país vizinho e o desenrrolar de sua vida política. Fomos "participantes" da abertura de um ano legislativo, na eleição da Cristina, nos bloqueios de estradas feitos pelos "maestros", nos levantes dos agricultores e nas conversas casuais nas quais ouvimos a opinião política dos argentinos. Aqui do Brasil também acompanhamos os principais movimentos do Presidente e de sua sucessora, Cristina, na busca da recuperação e do desenvolvimento da nação platina e sua relação com o nosso país. Desta forma, a morte súbita de Nestor Kirchner não passa despercebida aqui no blog, até mesmo pela sua origem, da província de Santa Cruz, Rio Gallegos, e pelo local de seu falecimento, El Calafate, em plena Patagônia argentina. Fica o registro e o respeito pelo pesar da Argentina que perdeu um grande líder. 


Foto: María Eugenia Cerutti - http://www.clarin.com/

domingo, 24 de outubro de 2010

Expedição Inti & Killa II - Décimo-quinto dia - 18/09/2010 - II

Saindo de Tipón rodamos mais uns 90 quilômetros até chegarmos no conjunto arqueológico de Raqchi (118 quilômetros a sudeste de Cusco). Nesta localidade destaca-se o singular Templo de Wiracocha, o Deus criador do Universo na mitologia andina. É uma construção arquitetônica tão peculiar que não possui termo de comparação com nenhum outro monumento pré-hispânico. Trata-se do único prédio inca que apresenta colunas cilíndricas e quatro naves. E não existe nada parecido em Saqsaywaman, Machu Picchu, Pisaq ou Ollantaytambo, as principais ruínas localizadas em Cusco e arredores! Além do templo, o parque arqueológico é composto por uma área de moradias, colcas (silos de alimentos), banhos, uma muralha de 5 km e trechos da trilha inca que ligava Cusco e Collao. É muito bonito e valeu a visita!
Ao final do dia, já escuro da noite, chegamos em Puno. Não foi tão simples achar o hotel para o qual tínhamos reserva, pois chegar à noite em qualquer cidade desconhecida é complicado. Mas no final deu tudo certo e encontramos o Antara Hotel (hotelantarapuno@hotmail.com). É um bom hotel e com preço acessível, embora não fosse tão próximo do centro, porém contava com a garagem para podermos guardar o jipe e ficarmos tranquilos.
















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