sábado, 11 de dezembro de 2010

Expedição Inti & Killa II - Décimo-sétimo e décimo oitavo dias - 20/09/2010 e 21/09/2010

Recordando, no último post narramos a decisão de voltamos ao Brasil pelo trajeto Bolívia-Argentina, ao invés de seguir via Chile-Argentina. Depois da viagem que fizemos em 2009 passei a considerar a Bolívia um trajeto radical, pois o país é bonito, tem uma rica história e forte cultura indígena, mas com vários problemas decorrentes da sua condição de pobreza (infraestrutura muito precária, corrupção de autoridades, segurança, baixa receptividade aos viajantes etc.). Mas tudo bem, ainda assim achamos que valeria cruzar o país para fazermos um novo caminho e reduzirmos o regresso ao Brasil em um dia.
Um dos maiores estresses nessas viagens são as fronteiras, pois da cabeça das autoridades de cada país podem surgir grandes barbaridades para o viajante. Sair do Perú foi a maior facilidade. Em Desaguadero Perú fizemos um rápido trâmite e logo estávamos liberados. Aproveitamos para fazer câmbio no lado peruano, pois segundo nos informaram não haveria no lado boliviano. Ficamos muito inseguros da quantidade de bolivianos que precisaríamos e das conversões, pois já era a sexta moeda que entraria nas contas (real, dólar, pesos argentinos, pesos chilenos, soles e por fim, os bolivianos). Chegou a dar um nó em nossas cabeças, mas depois de muitas contas na calculadora chegamos à conclusão de que não seríamos enrrolados nas trocas e de quanto seria necessário para atravessar a Bolívia em dois dias. E teríamos que ter dinheiro para tudo, pois não aceitariam cartão de crédito em lugar nenhum no caminho.
Feito o trâmite no Perú e o câmbio seguimos felizes para o carro para atravessar para o lado boliviano. Aí surgiu o primeiro problema! Simplesmente do nada apareceu um fiscal fdp cobrando cinco soles pelo estacionamento do jipe. E tinha que ser pago em soles! Bem, a Márcia tinha terminado de entregar, generosamente, os últimos soles que tínhamos para uns rapazes que ficaram "cuidando" do carro. Fiquei muito zangado com ela, pois eu tinha avisado para guardamos uns trocados para uma eventualidade. Agora não tínhamos mais dinheiro peruano, que saco, e estávamos perdendo tempo precioso!!! Perguntei se não poderia pagar em bolivianos, mas o cara, com pouquíssima boa vontade, não aceitou. Então voltamos no câmbio para trocar dinheiro novamente. Só que eles não aceitaram fazer troca de uma pequena importância! Putz! Então lembrei que eu tinha dois dólares na carteira e voltamos ao carro para oferecer ao fiscal. Ele aceitou os dólares, mas ainda queria mais um sol, que m! Remexendo nos bolsos achamos uns trocados perdidos e conseguimos completar o pagamento do estacionamento. Perdemos mais tempo com isso do que fazendo o trâmite da fronteira peruana!!!
Bem, atravessamos os metros da ponte que passa sobre o canal vertedouro do lago Titicaca e chegamos no Desaguadero boliviano. O aspecto não era nada convidativo. Essas cidades de fronteira sempre tem atividade de contrabando e lembram muito a paraguaia Ciudad del Este, só que mais pobres e sujas. Estacionamos o carro e saímos a procurar a imigração. Uns guardas de fronteira nos indicaram o local e lá fomos nós para os trâmites de passaporte. Até que achamos rápido o escritório, pois nada era claramente identificado. Preenchemos os formulários necessários e logo ganhamos o visto de turistas. 
O passo seguinte seria na aduana, para fazer a declaração juramentada do veículo. Pedimos orientação e nos disseram que o escritório ficava do outro lado do prédio. Começamos a circular o tal edifício, fomos e voltamos e fomos e voltamos novamente e nada de encontrarmos a tal aduana. Perguntamos para um e para outro, abrimos portas indevidas, mas nada de uma resposta esclarecedora. Até que caímos na real e percebemos que o tal escritório da aduana era uma salinha suja e empoeirada na esquina do mesmo prédio da imigração. Não tinha identificação visível, a porta estava acorrentada e a janela do guichê de atendimento fechada. Tentei divisar o interior e percebi que não havia movimento qualquer. Meu Deus, quanto tempo teríamos que esperar até o fiscal voltar? Esperamos mais um pouco e voltei a falar com os guardas de fronteira pedindo orientação. Só que esses caras nunca são do tipo amistoso e você não quer ficar fazendo perguntas, pois sabe que eles ficam aborrecidos e não querem prestar atenção aos estrangeiros. Percebe-se que o pensamento é mais ou menos assim: você chegou até aqui por vontade própria, então, vire-se sozinho e não encha o saco! Ainda assim eles deram uma informação, bem mais ou menos, dizendo que se não havia ninguém na aduana eu deveria seguir adiante até o escritório principal, se não me engano chamado de aduana Quemada. Perguntei onde ficava e eles me disseram que eu encontraria no caminho!!! Que insegurança bateu na gente. Entrar Bolívia adentro sem o documento do carro, procurando uma aduana com localização duvidosa. Mas o que fazer, não tínhamos outra alternativa. 
Seguimos devagar pelas ruas pobres da Desaguadero boliviana mas logo percebemos que o caminho tomado estava errado. Abordamos um ciclista e, enfim, encontramos uma alma de boa vontade que nos deu a informação correta. Retomado o caminho chegamos num local cheio de brutos estacionados, o que me fez concluir que ali poderia ser a aduana. Não deu outra. Era alí mesmo! Bom! Estacionamos, eu entrei no escritório com a papelada do carro e logo achei o guichê de atendimento. Fiquei torcendo para que o funcionário não complicasse conosco, pois já tinha lido alguns depoimentos sobre mordidas na fronteira. Assim que fui atendido percebi que o fiscal era um sujeito educado e de bom trato. Começou a fazer o preenchimento das informações no computador, fez algumas perguntas e em seguida pediu-me a fotocópia dos meus documentos e os do carro. Fotocópia?! Sim, teria que apresentá-la para terminar o trâmite! Perguntei onde poderia fazer as tais cópias e ele indicou-me um escritório de despachantes ao lado da aduana. Saí do prédio e caminhei uns metros para logo encontrar o escritório mencionado pelo fiscal. Tinha um rapaz jovem atendendo e logo vi a máquina copiadora. Cumprimentei-o e pedi a cópia dos meus documentos. Recebi como resposta uma negativa, pois a máquina estava com o cartucho tonner vazio! Tava bom demais. Perguntei onde poderia encontrar outra máquina e ele disse-me que no escritório ao lado tinha outra, porém estava fechado. De outro modo só voltando no centro da cidade! Nossa, fiquei desesperado com o tempo  valioso de estrada que estávamos perdendo. O dia estava se indo! Algo que poderia ser muito simples  de resolver estava virando um verdadeiro transtorno na Bolívia. Voltei ao carro emburrado e avisei a Márcia das tais fotocópias que nos pediram. Toquei de volta para a cidade e começamos a circular pelas ruas. Parei, desci do carro e fui perguntar para algumas pessoas no comércio. Na rua ao lado tem uma casa com máquina, disseram umas moças. Bom! Fui até o lugar, faceiro, mas estava fechado. Meu Deus! Perguntei para uma outra pessoa. Na ponte você vai encontrar, falou um rapaz. Na prática nós estávamos voltando para o Perú! Tocamos para a ponte e desci para perguntar. A Márcia ficou para guardar o carro, pois  achamos arriscado deixar nosso veículo sozinho. Caminhei e entrei num lugar que parecia uma agência de banco, mas não quiseram me atender. Saí e procurei um outro escritório. O segurança do prédio disse que tinha uma máquina mais perto da ponte. Caminhei para o lugar indicado e achei a tal copiadora. Ficava num botequinho, um lugar bem improvável para uma máquina de xerox. O detalhe insólito: caminhamos tanto para chegar novamente em frente ao prédio da imigração! Gastamos quase uma hora nessa brincadeira! Bem, fiz as tais cópias, comprei um refrigerante para ajudar no troco e fiz uma ligação para casa. Falei com a minha irmã. De costume avisei que estava tudo bem conosco e que não se preocupassem. Todo mundo bem em casa!
Voltei contente para o carro e avisei para a Márcia que conseguira as fotocópias. Tocamos novamente para a aduana e terminamos os trâmites sem maiores problemas, pois o fiscal nos deu prioridade no atendimento. Graças à Deus, agora poderíamos seguir em frente na direção de La Paz!









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