Viajar em grupo de alto astral, com muita energia e com uma guia prá cima, bem informada e segura de si é um passo importante para um roteiro dar certo. Equipe que interage e se envolve com a paisagem, com o cenário e com as coisas do lugar são indicadores de resultados positivos. Foi isso aí que aconteceu conosco. Junto com Valéria, Mariju, Alex, Fernando e a guia Sandra, a Patagônia de Aysén foi vasculhada, descoberta e desvendada em seus segredos, em seus silêncios e na sua natureza ampla, bela, intocável. A gente aprendeu dezenas de palavras em espanhol brincando ao percorrer centenas de quilômetros prá cima e prá baixo da Carretera Austral, muito mais do que sabemos rotineiramente com o nosso enrolado portunhol, entrou na vida desta área chilena de 108 km² e 90 mil habitantes, a 11 das 12 regiões (estados) deste país estreito e comprido - 4.270 quilômetros de comprimento e 177 de largura, 756.950 km² e 17 milhões de habitantes - e entrou, de corpo e alma, nos seus assuntos e nas suas questões pontuais.
A gente até se enredou em uma grave polêmica que está estabelecida na Patagônia, que quer viver do turismo, que não aceita agressões e intervenções na sua paisagem e que está enfrentando pressões de empresas elétricas de porte mundial.
A colombiana Constanza Palacios Holguín saiu da agitada Cali de 2 milhões de habitantes para se casar com o chileno de Santiago Alan Vásquez Chávez. Eles se conheceram na Internet, pois são movidos por uma paixão, os cães da raça Schnauzer Gigante. Do amor por cachorros, surgiu o amor especial dos dois que têm um hotel, Espacio y Tiempo, em La Junta, localidade de 1,2 mil habitantes. Constanza, ou Conny, se enraizou na vida de Aysén e incorporou as suas belezas. Ela luta com toda as armas possíveis para evitar a construção de represas na Patagônia. São dois projetos hidrelétricos, cinco represas, que vão deformar a paisagem da região. "A instalação de megacentrais hidrelétricas vai inundar áreas virgens de nosso território, represar rios e fazer surgir torres e linhas de alta tensão de até 70 metros de altura, formando uma cicatriz de 1.960 quilômetros até o seu destino no centro do Chile, deformando toda a nossa paisagem, as nossas águas, as nossas montanhas e o nosso turismo. Seria o maior assassinato de imagem natural e intocável da natureza já feita no mundo", diz ela, inflamada.
A posição comove os visitantes, que passam o tempo todo vendo outdoors pela região condenando a construção e vendo a paixão do povo na defesa da região, do turismo e da cultura locais. "Podemos viver muito bem com o fortalecimento do turismo", brada Conny, cheia de energia. "O megaprojeto da HidroAysén, uma das empresas que vai construir barragens, afetaria quatro parques nacionais, oito reservas, 13 sítios prioritários de conservação da biodiversidade, três zonas de interesse turístico e 26 áreas úmidas, como florestas, lagos, rios, etc."
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